A contabilidade como ferramenta de gestão empresarial a startups

Por Ademir de Souza Pereira Junior

Contador e Professor Universitário, com Pós-Doutorado pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) / FAPEBA

Publicado em 09/08/2019

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A busca pela excelência na gestão empresarial deve ser a meta de um gestor para angariar sucesso em sua empreitada, pois só assim será possível competir no mercado, mesmo com empresas maiores. Uma das dificuldades em manter o controle da gestão é que o empreendedor precisa aprender a ler uma porção de dados, análises e relatórios de forma ágil. Assim, investir em softwares de gestão que facilitem todo o processo certamente trará vantagens competitivas, maior produtividade e melhores decisões. Unir as ferramentas de gestão certas com planejamento e liderança auxiliam muito no sucesso da startup.

Empreendedores de sucesso podem até acertar na primeira tentativa, mas sabem que sempre é preciso mudar e inovar para obter melhorias no modelo de negócios. Esse planejamento deve existir ao longo da vida da startup e deve ser realizado periodicamente para traçar objetivos, custos e lucros.

Custos enxutos e estrutura reduzida estão entre as características de uma startup, mas isso não significa que elas não precisam ter constante e exato controle sobre as movimentações tanto de obrigações quanto de faturamento. Para esse tipo de empresa, a escrituração contábil tem tanta importância quanto para qualquer outra.

Indo mais além, a importância da contabilidade para startups ainda pode ser percebida na busca por investidores e na relação com eles, que tem de ser baseada em transparência e números exatos para as mensurações necessárias.

A natureza de estrutura e custos enxutos de uma startup a ajuda no crescimento e na escalabilidade das operações.

Não podendo contar com relatórios contábeis confiáveis e atualizados em tempo real se torna mais fácil que gastos adicionais passem despercebidos ou que eles evoluam sem o devido cuidado.

A consequência disso é a dificuldade de escalar a startup pelo gargalo de dinheiro existente que reduz a margem de lucro e tira disponibilidades de outras áreas, como marketing e melhoria de produtos ou serviços.

Lidar com a escalabilidade de uma startup é crucial para o negócio como um todo. É neste momento que contratações são feitas, que problemas com clientes começam a aparecer e que o produto ou serviço começa a ganhar valor. Com o crescimento da empresa as qualidades como liderança e visão estratégica começam a se destacar em um empreendedor. E é também a fase em que sérios problemas podem aparecer caso não haja controle da gestão.

ESTRUTURA DE CONTROLE DE INDICADORES CONTÁBEIS NUMA STARTUP – LIFETIME-VALUE

A gestão de uma startup é muito baseada em métricas, números que dão respostas sobre erros, acertos e melhorias necessárias para os empreendedores tomarem decisões estratégicas ou corretivas.

A importância da contabilidade para startups na leitura de indicadores está no fato de a escrituração apresentar tudo o que acontece na empresa e os números resultantes disso, incluindo fatores não abrangidos por relatórios financeiros, como o crescimento dos ativos.

Analisando os documentos contábeis em toda a abrangência deles é possível acompanhar, entre tantos, indicadores como:

  • retorno sobre investimento (ROI);
  • retorno sobre ativos;
  • margem bruta;
  • margem líquida;
  • relação despesas x receitas;
  • nível de endividamento;
  • Lifetime-Value (LTV).

A essas condicionantes surge a figura indicativa econômica mediante o “Lifetime-Value”, que em tradução à língua portuguesa estaria próximo de “valor vitalício” cujo mecanismo é de vital importância na estrutura de uma startup para averiguar, por exemplo, o valor de um cliente.

Afinal, nenhum negócio sobrevive sem clientes, e só quem é empreendedor sabe o esforço necessário para conseguir cada um deles.

Porém, as ferramentas digitais mudaram a forma como se faz negócios, e um dos motivos é a possibilidade de medir quase tudo em uma estratégia de marketing e vendas.

Na prática, essa métrica pode ensinar muito sobre vários aspectos da empresa e ajudar você a se organizar melhor para garantir um futuro saudável para o seu empreendimento.

O valor vitalício de um cliente é quanto dinheiro ele vai dar à sua empresa por todo o tempo em que comprar de você.

Como assim?

Vamos dar um exemplo para ficar mais fácil de entender:

Pense que um dos seus clientes fez 5 compras ao longo de 2 anos, e depois nunca mais comprou nada.

Cada compra teve um valor diferente. A 1ª teve o valor de R$ 55,00, a 2ª, de R$ 120,00, a 3ª, de R$ 120,00 e a última, de R$ 180,00.

Assim, você poderia dizer que o lifetime value (ou LTV) dessa pessoa foi de R$ 475,00, que é a soma total dos valores gastos por ela durante todo o período que foi cliente.

Naturalmente, a ideia desse indicador não é fazer uma conta separada para cada cliente. Isso seria demorado e pouco eficiente. O objetivo é analisar todos os clientes, de forma geral, e encontrar a média de valor gasto e tempo de permanência.

Todavia, na prática, como se deve chegar ao resultado desse indicador e potencializar negócios, com uso da contabilidade em uma startup?

O Lifetime-Value nada mais é, que a composição do ticket médio (TM) relacionado a cada compra média desse cliente a cada ano (CM) e vinculando sobre ela, a média de tempo de relacionamento (MR), onde LTV= (TM x CM) x MR.

Ao levarmos para a prática, podemos evidenciar uma startup, algo como uma Scalable Startup (startups que vivem de capital de risco e empresários que não querem só trabalhar para se sustentar, mas sim despertar o interesse de grandes investidores, que possuem visão de longo prazo a um retorno milionário), cujo custo média dela ao mês seja de $1.000,00, e esse custeio é aplicado mensalmente ao longo de todo o ano.

Contudo, o tempo médio de relacionamento desde a compra até o cancelamento seria de 03 anos, teríamos o resultado pelo indicador da seguinte forma:

LTV = (1.000 x 12) x 3 = LTV = 12.000 x 3 = LTV = 36.000.

Com base no exemplo acima, a contabilidade auxiliou com base no lifetime- Value, que o cliente teria um saldo de R$36.000,00 a ser investido em sua empresa. O LTV é um indicador poderoso, mas, como qualquer métrica, tem que ser analisado dentro de um contexto. Isso significa comparar os dados coletados com outras métricas relevantes.

Essa comparação ajuda a completar o quebra-cabeça que mostra a situação real e completa do seu negócio, ou seja, mostra o que está funcionando bem e o que precisa de maior atenção para melhorar, entre elas, destacam-se o Churn Rate (Taxa de Abandono), que mensura quantos clientes cancelam seu serviço ou produto a cada mês e o Custo de Aquisição do Cliente (CAC), que indica quanto a sua equipe de marketing e vendas gasta para fechar cada venda.

 Se o valor do seu CAC (que geralmente é gasto antes da venda acontecer) for muito próximo ou até maior que o seu lifetime value (valor que será recebido no decorrer de anos), a saúde financeira do negócio está em sério perigo. Por isso, a regra é sempre manter o CAC bem mais baixo do que o LTV.

REGIME TRIBUTÁRIO

Nesse sentido a importância da contabilidade para startups está na assessoria contábil, pois o profissional que presta esse serviço é quem da melhor maneira indica a um negócio em qual regime tributário enquadrar-se.

Ato contínuo, startups aderem ao Simples Nacional antes de chegarem ao faturamento de R$ 4,8 milhões ao ano. Entretanto, paradoxalmente, não é tão simples assim porque o regime simplificado conta com cinco anexos e às vezes a atividade da empresa deixa dúvidas quanto ao correto enquadramento da receita dentro deles.

Em relação a isso, além de ajudar no correto enquadramento de anexo, um escritório contábil pode ainda encontrar formas legais de a startup pagar seus tributos pelas alíquotas menos pesadas quando mais de um anexo parece ter relação com as operações.

Para startups que atuam como marketplace (shopping center virtual), por exemplo, pode haver situações em que o simples nacional pode ser uma boa opção, e pode haver situações em que a melhor opção seja pelo lucro real, ainda que a empresa esteja nos estágios iniciais de operação.

Em geral, essas empresas atuam como intermediadoras, conectando os fornecedores aos clientes finais.

Nessa intermediação o ideal é que o fornecedor emita uma nota fiscal diretamente para o cliente final, pois, assim, a receita tributável será somente a do serviço de intermediação, sem incluir o valor da prestação de serviço do seu fornecedor. Ou seja: se a empresa A estiver prestando um serviço por R$ 100 e a sua empresa estiver cobrando R$ 20 pela intermediação, os tributos que sua empresa vai ter que pagar serão calculados sobre os R$ 20 da intermediação em vez dos R$ 120 totais da operação.

Ou por exemplo, a atividade de consultoria em tecnologia da informação pode ser tributada tanto pelo Anexo III do Simples quanto pelo V. Sendo assim, se a startup estiver com faturamento de até R$ 300 mil nos últimos 12 meses (R$ 25 mil por mês), sua alíquota pode ser de 11,2% ou 18%, dependendo do Anexo no qual se enquadrar.

Observa-se que o conceito é amplo para esse segmento, e o uso de ferramentas contábeis e jurídicas tornam-se indispensáveis para o sistema de gestão empresarial, cada vez mais eloquente no ambiente empresarial, haja vista se tratar de nichos que surgem potencializados, seja por uma ideia simples até a mais sofisticada.

 

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